Por Mauro Wainstock*.
50+, uma turma em ascensão…
Eu era criança, me tornei jovem, depois moço e, agora… senhor?! Tenho 50 anos e ainda não me acostumei quando me chamam desta forma. Afinal, estou muito longe de me sentir idoso, sênior ou ancião; para mim estes termos já estão totalmente envelhecidos. Se, por exemplo, em 1940, a expectativa de vida dos brasileiros era de pouco mais de 40 anos; em 2050 vai dobrar. Então, nessa nova época, os 50+ serão quase metade da nossa população.
Em termos globais, este grupo etário também assumirá o protagonismo demográfico. Pela primeira vez na história da humanidade, será superior à quantidade de crianças até 14 anos. Além disso, a inclusão etária é mais do que uma simples causa, tema midiático ou ação institucional. Acima de tudo, é uma necessidade premente.
Questões relacionadas à longevidade devem ser encaradas como uma prioridade diária. Acima de tudo, no que tange a uma equilibrada base familiar, ou no âmbito de uma sociedade plural e inclusiva.
Um consumidor de qualidade
No Brasil, os 50+ movimentam mais de R$ 1,8 trilhão, compondo a fatia da população com o maior poder aquisitivo do mercado. Relatórios comprovam, por exemplo, o destaque desta faixa etária nos e-commerces brasileiros, com 31% do total das compras. No “Black Friday” de 2018, estes consumidores adquiriram 1,4 vezes mais celulares do que aqueles entre 18 e 49 anos.
A economia da longevidade, que se expande com enorme voracidade, também é ampla em sua abrangência. Por isso, atinge segmentos como viagens e entretenimento, moda e beleza, inovações e tecnologia, casas e ambientes.
Uma iniciativa que prolifera velozmente são as moradias inteligentes e compartilhadas (“cohousing”). Algumas foram projetadas exclusivamente para 50+. Como resultado, elas focam no senso de comunidade. E assim propiciam privacidade, segurança, sociabilização e qualidade de vida. E, minimizam questões como a ociosidade, o isolamento e a depressão.
O envelhecer e o bem-estar
A tendência, enfim, é desvincular cada vez mais o termo envelhecimento a doenças terminais e atrelá-lo ao bem-estar. O Google, por exemplo, fundou a Calico. Trata-se de empresa de pesquisas de mapeamento genético, cuja missão é descobrir o gene da juventude. A recente “gerontecnologia” surgiu, em princípio, como uma especialidade, inter e multidisciplinar, que combina gerontologia e tecnologia. Portanto, proporcionam soluções que beneficiam o dia a dia deste público.
Ser produtivo física e mentalmente se tornou iminente, gerando uma crescente demanda pela andragogia. E isso vale tanto no sentido de obter capacitação para empregabilidade, como para exercer atividade empreendedora consciente e sustentável.
O Brasil e o mundo!
Sobre o tema, é importante ler recente estudo da Harvard Business Review, em que revela dado muito interessante. Devido à experiência profissional adquirida com o idade, os 50+ obtêm taxas de sucesso empresariais superiores às das demais faixas. Você sabia que a média de idade dos CEOs das empresas listadas na Bolsa é de 55 anos? E que Henri Nestlé iniciou a empresa com 52 anos. Aliás, mesma idade de Ray Kroc quando abriu a primeira loja do McDonald’s? Já John Pemberton inaugurou a Coca-Cola com 55 anos e Charles Flint fundou a IBM quando tinha 61 anos.
No Brasil, também há casos muito interessantes. Por exemplo, Assis Chateaubriand deu início à TV Tupi com 58 anos. Roberto Marinho inaugurou a Rede Globo aos 60. As hipóteses são variadas, como Alzira Ramos que, ao ficar desempregada com 60 anos, criou a Fábrica de Bolo Vó Alzira, hoje uma franquia com mais de 200 lojas; o empresário Permínio Moreira que, aos 68 anos, fundou a fintech Ekko e a patenteou em 180 países; e o youtuber Nilson Papinho que, aos 72 anos, mantém um canal com 4,8 milhões de seguidores.
Percentuais impactantes!
O mercado 50+ já é uma realidade. Como resultado, representa US$ 15 trilhões globalmente, o equivalente a 50% do total do consumo. Assim, o direcionamento dos produtos especificamente para este nicho e a personalização das experiências oferecidas são formas de conquistar a confiança, engajar e fidelizar este consumidor. No caso do varejo, certamente, é possível inovar através de lojas mais acessíveis, gôndolas inteligentes, produtos com fácil usabilidade e rótulos bem legíveis. No entanto, as empresas ainda têm um longo caminho de amadurecimento no mercado. Nos EUA, por exemplo, menos de 1% dos carros novos são vendidos para quem tem menos de 25 anos e 75% para os 40+. Já no Reino Unido, esta faixa etária possui 75% do poder de consumo do mercado, mas só recebe 5% dos investimentos publicitários.
Este ano, o painel “The 50+ Goldmine: Sparking Creativity’s Coming of Age”, do “Festival de Cannes”, um dos principais da publicidade mundial, destacou justamente o negligenciamento do consumidor 50+. Da mesma forma, advertiu para o equívoco de propagandas com mensagens estereotipadas e para a significativa perda de receita por ignorarem as múltiplas oportunidades proporcionadas pela economia longeva.
Mudança de paradigma no mercado
Apesar do alerta, o evento registrou exemplos positivos, como a marca de cosméticos Covergirl, que apresentou o desfile de uma modelo 70+, e a Gillette, que criou um aparelho de barbear para homens que não conseguem fazer suas barbas sozinhos. Uma das palestrantes, Bozoma St John, CMO da Endeavor, sublinhou: “Estamos falando sobre negócios, então precisamos prestar atenção em quem compra os nossos produtos. Por que esses consumidores são ignorados? Por que não focamos na conversão deles?”.
Trata-se de uma mudança de paradigma. Temos que abolir definitivamente o ageísmo, eliminando o preconceito geracional, integrando, enfim, as características mais relevantes de cada grupo etário para a construção de uma sociedade rica na diversidade, saudável em seus propósitos e fortalecida em seus valores.
Na prática, o público 50+ deve ser adjetivado como uma valiosa fonte de conhecimentos, uma inestimável disseminadora de experiências e uma riquíssima força econômica no mercado. Representa, em resumo, é uma “senhora idade”!
Mensagem da ONU: “Uma sociedade para todas as idades possui metas para dar aos idosos a oportunidade de continuar contribuindo com a sociedade. Para trabalhar neste sentido é necessário remover tudo que representa exclusão e discriminação contra eles” (Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento/Madrid, 2002).
* Mauro Wainstock é CEO do HUB 40+, comunidade que oferece aos “jovens acima de 40 anos” capacitação para a empregabilidade e o empreendedorismo.
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Imagem: @byrawpixel
