Por Gabriela Azevedo*
“Pedi demissão, meu estágio não era estratégico”.
Gestores de jovens talentos como estagiários, trainees e analistas já ouviram frases parecidas como esta e certamente ficaram perplexos. De fato, os jovens millennials são conhecidos por serem inquietos, cheios de energia e ambição, além de muito bem formados. Por exemplo, fazem as melhores faculdades, tem fluência em inglês, conhecimento em espanhol e alemão e fazem intercâmbio na Europa. Enfim, não dá para contestar, eles são bons!
Em troca de toda essa formação, entram no mercado de trabalho esperando um imediato reconhecimento à altura, mas não se lembram de que o desenvolvimento de carreira é muito mais do que uma boa formação. Trata-se do início do processo de construção de uma trajetória profissional que passa por várias etapas. Para isso, é preciso estarem preparados também sob o aspecto socioemocional, pois as competências comportamentais são tão importantes quanto às técnicas.
Competência socioemocional dos jovens talentos
Em 1995 Daniel Goleman publicou seu best seller Inteligência Emocional. Dez anos adiante, publicou um novo livro intitulado Inteligência Social. Neste segundo livro ele apresentou o vínculo estreito que existe entre emoções e interações sociais. Segundo Goleman, somos programados para nos conectar e quanto mais forte for o vínculo emocional, mais intensas serão as trocas.
A educação socioemocional é, portanto, um processo em que crianças, jovens e adultos não lidam apenas com suas emoções para alcançar objetivos pessoais. Trata-se de um processo que envolve autoconhecimento e empatia para que se consiga ter a compreensão da perspectiva do outro.

Educação socioemocional no cotidiano corporativo
O controle emocional é uma das competências menos desenvolvidas nos jovens millennials. Assim é que, ansiosos e sem visão de longo prazo, acabam guiando-se pelo impulso. Com isso, deixam de olhar para seus projetos pessoais e para o seu entorno, tomando decisões nem sempre responsáveis.
Em troca de toda essa formação, entram no mercado de trabalho esperando um imediato reconhecimento à altura. Mas não se lembram de que o desenvolvimento de carreira é muito mais do que uma boa formação. Trata-se do início do processo de construção de uma trajetória profissional que passa por várias etapas. Para isso, é preciso estarem preparados também sob o aspecto socioemocional. Pois, as competências comportamentais são tão importantes quanto às técnicas.
Em síntese, esses jovens talentos têm enorme dificuldade em se posicionarem. Sentem-se envergonhados ou inseguros e não dizem a seus gestores que estão desmotivados. Dessa forma, gestores são pegos de surpresa com o pouco engajamento dos jovens ou com seus inesperados pedidos de desligamento.
Assim, frente a essas situações, constatamos que a educação socioemocional não deve se restringir ao âmbito escolar ou familiar. Gestores e profissionais de recursos humanos também contribuem de maneira significativa para a formação socioemocional dos jovens profissionais.
Alavancando o engajamento do jovem
Como cresceram sendo constantemente elogiados por seus pais, esses jovens entram na organização com a mesma expectativa. Entretanto, são surpreendidos por modelos de avaliação de desempenho com feedbacks semestrais ou anuais e se sentem desprestigiados. Então, como ajudá-los?
Pode-se estimular o jovem a pedir micro-feedbacks, em que deve procurar saber como foi sua conduta em uma reunião, como a equipe tem percebido sua colaboração ou se suas decisões têm sido assertivas e responsáveis. O importante é estimular o jovem a sair de uma posição passiva e adotar uma postura mais pro-ativa.
Esses micro-feedbacks não visam enaltecer o jovem e seu incrível potencial, mas sim mostrar de maneira breve como está seu desempenho em suas tarefas cotidianas
O jovem deve perceber que no dia-dia, mesmo que sua atuação não seja estratégica, há diversos aspectos que ele pode desenvolver. Os aspectos socioemocionais são desenvolvidos em feedbacks com gestores, colegas de trabalho, mas também em iniciativas estruturadas como workshops e cursos online oferecidos pelo RH.
Por fim, a compreensão socioemocional faz com que as equipes possam se relacionar e se comunicar de forma ética e transparente, baseada em valores e respeito, promovendo o engajamento de todos.
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* Gabriela Azevedo é sócia-fundadora da consultoria Verace, implementa e coordenada iniciativas de Educação Socioemocional e de Carreira para universidades e empresas. É psicóloga pela PUC SP, mestre pela USP, coach pela Sociedade Brasileira de Coaching, com especializações em Educação Socioemocinal pelo Instituto Sedes Sapientiae e em Gestão do Conhecimento pela FIA.
** Gabriela estruturou programas de carreira para o Núcleo de Carreiras do Insper. Coordena a Academia de Talento da Mauá. Elabora conteúdo e conduz diversas ações de desenvolvimento socioemocional para empresas e universidade. É autora do livro Minha Carreira Meu Futuro, autora do capítulo A Escolha da Faculdade in A Saúde de Nossos Filhos. É professora convidada do ITA.
Imagem: mdvstyle.com
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