Por Ariel Vicentini, MSc Eng. e especialista em gestão empresarial.*
Hoje, as lideranças empresariais e da sociedade percebem que a certeza relativa necessária para a tomada de decisão é o recurso de maior falta.
Recentemente, assistimos pessoas correndo para estocar suprimentos, mercados financeiros em oscilações enlouquecedoras, restrições de viagens ou proibição de entrada de pessoas oriundas de outros países. Além disso, em meio a essa turbulência, somam-se os problemas associados às reservas de petróleo e à guerra comercial entre EUA e China.
Estamos em guerra!
Em primeiro lugar, o inimigo é invisível, corre o mundo rapidamente e, no momento, não existem armas efetivas de localização antecipada ou que permitam sua neutralização. A única certeza é o medo.
Embora este inimigo não dizime coisas físicas, mas afetando diretamente indivíduos, seus impactos são direcionados à dimensão humana. Os doentes precisam de tratamento, as famílias daqueles que partem merecem conforto, e quem está bem precisa seguir em frente apesar do medo.
Essa necessidade de continuar a vida e as coisas apesar dos problemas se torna responsabilidade dos líderes de comunidades e de empresas. Nesse sentido, a pandemia provocada pelo COVID-19 tem imposto demandas extraordinárias a líderes dentro e fora das empresas.
Liderança tem relação com a forma de conduzir as pessoas para um determinado futuro apesar dos riscos e incertezas. Contudo, a escala gigantesca desta pandemia cria uma sequência de eventos inesperados, com velocidade e grau de incerteza altíssimos. Todo esse caos se desdobra em elevados índices de sensação de desorientação; ou seja, sensação de perda do controle e confusão mental dos indivíduos.
Antes de tudo, os verdadeiros líderes deverão focar em harmonizar e equilibrar os sentimentos e desejos das suas equipes e stakeholders. Além disso, adaptar produtos, processos e serviços, delegar responsabilidades e tomada de decisões, e criar um ambiente propício para sobreviver e prosperar.
Por mais que seja difícil, os líderes deverão também: exercer uma comunicação mais autêntica e eficiente; uma capacidade de execução estratégica clara e flexível; criar sistemas de operações eficientes e capazes de auxiliar na tomada de decisão que deverá ser delegada e incentivada.
1. Liderança deve harmonizar e equilibrar as pessoas
Um dos papéis da liderança será entender o máximo possível o contexto da situação, sem muitas informações precisas e de alta volatilidade. Além disso, manter um positivismo e tranquilidade controlados será um fator essencial.
As equipes precisarão de líderes que transmitam serenidade no meio do caos, em outras palavras, que mostrem-se atentos para onde o barco deverá seguir. Do mesmo modo, deverão entender que todos estão neste mesmo barco, e que o medo e as incertezas estão excessivamente elevados.
A Liderança deverá criar um ambiente de confiança e respeito. Na forma de falar, as palavras deverão transmitir transparência e verdade. Assim, todos conseguirão receber a mesma mensagem, sem as distorções e os aumentativos da “rádio corredor”, que só provocam mais insegurança.
Então, a comunicação deverá ser limpa, direta, as mudanças e novos cenários que surgirão serão novidades para todos, inclusive para a Liderança. Onde o orgulho do falso entendimento demonstrará insegurança em admitir que não tem uma resposta imediata, o que pode minar a confiança. Ter sinceridade e oferecer as garantias de que a construção do futuro só poderá ser alcançada com todos juntos será mais eficaz. Durante uma crise, por exemplo, os líderes devem abandonar a crença de que uma resposta vinda de cima possa gerar estabilidade.
A visão de futuro deverá ser construída a partir dos valores e virtudes das empresas, com o mínimo de certezas. Contudo, o trabalho com interação, compartilhamento e comprometimento entre todos, nas diferentes equipes, permitirá a adaptação para a sobrevivência de curto prazo. Esta sinergia interna alinhada à cultura empresarial criará os caminhos para prosperidade no médio e longo prazo, apesar de tantas incertezas.
2. Adaptar produtos, serviços e processos
A partir do momento em que houver informações suficientes o bastante para as tomadas de decisões, essas deverão ser compartilhadas na maior velocidade possível. Contudo, as decisões deverão ser delegadas e incentivadas nos diferentes níveis da empresa, priorizando os direcionamentos estratégicos e adaptadas às realidades financeiras e mercadológicas.
Assim, a capacidade de execução estratégica da Liderança será o fator central de conferir ordem ao caos, e permitir as alterações operacionais necessárias para atender às prioridades estabelecidas para o curto, médio e longo prazos.
Caberá ainda à Liderança definir a forma de atuação das equipes.
De acordo com artigo da Mckinsey, em crises caracterizadas pela incerteza, os líderes enfrentam problemas desconhecidos e mal compreendidos. Um pequeno grupo de executivos no topo da organização não é capaz de coletar informações ou tomar decisões com rapidez suficiente para apresentar uma resposta eficaz. Os líderes poderão mobilizar melhor suas organizações se estabelecerem prioridades claras para a resposta e capacitarem as pessoas para que identifiquem e implementem soluções que atendem a essas prioridades”.
Este mesmo artigo aponta para uma estruturação de equipes no formato de “redes de equipes”. Com o claro objetivo de promover a rápida resolução de problemas em situações caóticas e de alto nível estresse. Além disso, estas redes seriam formadas por times de alta performance, eficácia e sinergia, no estilo de pequenas “tropas de elite”. Constituída de grupos altamente adaptáveis, multidisciplinares e unidos por um objetivo comum, com o dever de criar soluções práticas, rápidas e adaptáveis ao cenário vigente. Ao mesmo tempo, com absorção de boas práticas e alta capacidade de reorganizar as ações conforme as condições existentes.
3. A Liderança deve delegar responsabilidades e tomadas de decisões
A colaboração e a transparência dentro dos times e entre as diferentes redes incentivará um ambiente de confiança mútua. Isto será fortalecido pela delegação de autonomia e responsabilidades, e que é baseado no compartilhamento de informações.
O respeito e confiança será cada vez maior quanto maior for o poder de empatia da Liderança. O que resultará nas condições necessárias para que sejam tomadas as resoluções mais acertadas diante das informações e condições existentes.
A autonomia na tomada de decisão deve estar alinhada à confiança nas competências e habilidades dos líderes de equipe. Por isso, note-se que não há tempo a ser desperdiçado com as burocracias estabelecidas pelos níveis hierárquicos. A concentração do poder de decisão baseada na concentração de informação cai por terra em momentos como estes tão indefinidos, ou seja, deverão ser baseadas em um fluxo invertido com informações de baixo para cima. O que, principalmente, criará uma maior aceitação e um comprometimento geral nas tarefas e atividades a serem executadas, aumentando a percepção humana na responsabilidade da ação.
Contudo, isso não significa que a Liderança perdeu o poder, se é que o poder decisório é realmente o poder. Acredito que o verdadeiro poder é prover o que o mercado quer, precisa ou deseja, no momento e lugares certos, na forma e quantidade necessárias. Não é à toa que a prioridade dos produtos e serviços Disney é o requinte no detalhe.
Portanto, em crises não há espaço para crises egocêntricas de que uma pessoa resolverá todos os problemas. Verifica-se isso em diversas partes do mundo e da sociedade, com bons e maus exemplos em diferentes posições e ações das organizações públicas ou privadas.
4. Criar um ambiente propício à sobrevivência e prosperidade
O desencadeamento dos efeitos da pandemia e os desdobramentos sociais e econômicos gerados estão tomando dimensões jamais vistas em qualquer crise anterior. Isto gera, em níveis gerais, um temor de que determinadas economias não consigam suportar e entrem em colapso. Sob o mesmo ponto de vista, diversos países estão adotando medidas para reduzir os impactos sociais e econômicos, gerando efeitos de recuperação, nas melhores estimativas, no médio prazo.
Confirmando-se a recuperação lenta, as lideranças, baseadas nas prioridades, deverão estabelecer metas e objetivos de médio e longo prazos flexíveis, diante da imprecisão das informações.
Muitas perguntas ainda pairam no ar: Poderá haver algum tipo de evolução do vírus, antes da vacina de potencializar novos surtos? As vacinas em desenvolvimento serão eficazes na proteção de curto e médio prazos? Poderá haver algum tipo de onda pandêmica secundária? Quais as lições reais dos isolamentos sociais? São efetivos no combate? Serão no futuro?
Diante dessas incertezas, os Planejamentos Estratégicos das empresas, no momento, não possuem consistências suficientes que garantam previsibilidade segura nem para o curto prazo.
Isso impactará diretamente a Liderança corporativa e como ela será capaz de criar o ambiente necessário para que os esforços de curto prazo permitam que a empresa sobreviva, mesmo em uma situação de baixa demanda, perda do poder aquisitivo do consumidor, elevadas taxas de desemprego, altas taxas de inadimplência etc.
5. Liderança resiliente e foco na inovação
A resiliência da liderança será fundamental para enfrentar os desafios e harmonizar os ânimos para conseguir eficácia nas ações e soluções desenvolvidas. Por outro lado, a palavra inovação deverá ganhar força em todas as áreas corporativas, pois haverá a necessidade de repensar produtos, serviços e processos.
Para um ambiente inovador, não pode haver medo. A Liderança deverá transformar o medo em necessidade de mudança e oportunidade para novos arranjos na organização, reposicionar mercadologicamente a empresa, ampliar mercado. Ou seja, transformar a dificuldade em uma grande oportunidade.
De acordo com Eric J McNulty, especialista em Liderança do MIT, “uma ação de sucesso exige que um pé esteja fincado numa ideia sólida enquanto o outro caminhe numa nova direção”. Dessa forma, as lideranças corporativas devem aproveitar a crise para tornar as atitudes mais fluidas em relação à estratégia e táticas a serem adotadas.
O ambiente inovador capitaneado e estimulado pela Liderança torna-se o investimento estratégico para o longo prazo. Então, baseado no incentivo da adoção de metodologias ágeis de desenvolvimentos ou melhorias de produtos, serviços e processos, torna-se fundamental para o sucesso no meio do caos.
Portanto, o sucesso durante e após a crise está fundamentado em como a liderança consegue harmonizar as pessoas, delegar decisões e estruturar as estratégias mais certas e rápidas com o mínimo de informação.
Sobre o autor:
*Especialista em Gestão Empresarial, com 25 anos de experiência de mercado, já atuou como microempreendedor na área de varejo e gestor executivo em empresas na área de serviços e de projetos. Possui Mestrado em Engenharia Mecânica, bacharelado em Engenharia Mecânica Têxtil e especializações em Engenharia Econômica, Administração Industrial, Economia e Comércio Internacional e Gestão de Negócios. Na área educacional é professor na Universidade Veiga de Almeida, com disciplinas nas áreas de gestão e tecnologia, nos cursos de design e engenharia, tendo passado também por Universidades como Salgado de Oliveira, Estácio e Faculdade SENAI CETIQT. Áreas de interesse são: inovação, tecnologia e gestão.
Referências bibliográficas:
Rohlander, David. “O Código CEO”. Universo dos Livros, São Paulo, 2013.
Eric J McNulty. “Como liderar empresas na crise do Covid-19”. Disponível em link: https://www.proxxima.com.br/home/proxxima/how-to/2020/03/24/como-liderar-empresas-na-crise-do-covid-19.html Acesso em: 25 mai 2020.
Gemma D’Auria e Aaron De Smet. “Liderança em (uma) crise: reagindo ao surto do coronavírus e a desafios futuros”. Disponível em link: https://www.mckinsey.com/business-functions/organization/our-insights/leadership-in-a-crisis-responding-to-the-coronavirus-outbreak-and-future-challenges/pt-br# Acesso em: 25 mai 2020.
Arthur Diniz. “Liderando em meio à crise: como responder ao coronavírus e aos futuros desafios”. Disponível em link: https://crescimentum.com.br/liderando-em-meio-a-crise/ Acesso em: 26/05/2020.
Imagem: @tfrants
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2 Comments
Excelente artigo do Ariel. É muito bom ter profissionais que reforçam a ideia de que é papel da liderança cuidar das pessoas de sua equipe, apoiando-as, mantendo um clima organizacional propício ao progresso pessoal e profissional. Gostei muito!!
Olá,
Excelente matéria. Vocês poderiam disponibilizar o link para compartilhamento no Linkedin.
Sucesso!
Daniel