Então, gostando do home office? Desde antes da pandemia, já há algum tempo, que me questiono sobre o sentido de acordar, malhar, tomar um banho sem demora, engolir o café e sair correndo, às vezes para chegar ao meu escritório, no centro do Rio, e fazer, com um colega, uma reunião por telefone com pessoas de São Paulo.
Outros dias, acordo com a mesma rotina corrida: ginástica, banho, café e rua, só que me dirigindo para o aeroporto, de taxi, sempre às pressas, para passar dois ou três dias no meu escritório de São Paulo, onde faço reuniões com meus sócios ou clientes de lá.
Durante a crise do coronavírus, tenho trabalhado de casa desde 16.03.2020. Já são quase seis meses sem gastar um centavo com taxi ou avião. E minhas reuniões com pessoas do Rio e de São Paulo continuam a acontecer normalmente, diria até que com maior frequência. Isso, sem perder, em um só dia, aquelas duas horas de deslocamento pelo Rio, ou mais de quatro, nas idas e vindas a São Paulo.
O que isso pode significar? Eis a pergunta de um milhão de dólares que acredito deva estar sendo feita, neste momento, por milhões de pessoas, no Brasil e no mundo.
A julgar pela eficácia dos Zoom, Teams e Hangouts da vida, diria que, com a pandemia, tudo mudou. Vamos todos morar nos arredores dos grandes centros, em casas com gramados verdejantes, de onde continuaremos a trabalhar com pessoas situadas nos mais diferentes e distantes lugares.
O escritório do centro da cidade terá perdido razão de ser, bastando alguma programação para lidar com demandas presenciais, que tendem a ser cada vez menores, em vista dos negócios remotos e suas assinaturas digitais perfeitamente funcionais e seguros.
Enfim, no Home Office… Sair de casa para que?
Porém, pensando melhor, confesso que ainda vejo vantagens na existência dos escritórios e dos compromissos presenciais com sócios, clientes e afins da vida profissional. O dia a dia com as pessoas proporciona situações que não são capturadas por reuniões telepresenciais, mas são muito importantes para o desempenho no trabalho.
Refiro-me aos momentos aleatórios, inerentes ao convívio humano. Aquela hora da chegada ao escritório, ou do almoço, em que convivemos com nossos sócios sem uma agenda específica. E, de forma natural, trocamos ideias sobre os últimos acontecimentos, ou sobre os projetos em curso ou do futuro próximo.
Idem na estada com clientes. Quando falamos de notícias sobre o mercado da empresa em questão, ou conversamos sobre amenidades e até assuntos pessoais que ajudam a construir um relacionamento de empatia e identificação com nossos interlocutores que influi na qualidade do ambiente de execução das tarefas profissionais.
A pergunta que não cala, todavia, é: afinal, será que vale manter toda uma estrutura física de escritório, ou realizar viagens semanais, só para vivenciar momentos “fora da agenda”, quando se sabe que o trabalho em si pode ser realizado, com eficiência plena, pela comunicação digital?
Como temos dito e repetido na pandemia, é tudo muito novo. Até segunda ordem, salvo por um home office a mais, aqui e acolá, tudo deve permanecer como está. Acordar e correr para o escritório do Rio, ainda que para fazer uma ligação para São Paulo, no viva-voz com o sócio da mesma cidade. Ou lançar-me para São Paulo, para reuniões, almoços e jantares, com sócios e clientes.
É possível que, em um futuro não tão distante, morar no campo, ou numa cidade praiana aprazível apresente-se como uma opção irresistível, que se conjugue com um novo modelo de escritório, onde pessoas se encontrem com rotina, mas não todos os dias. Não sei. Diria que essa é a questão da ordem do dia para urbanistas e arquitetos. Quanto aos demais, é melhor aguardar, sem grandes mudanças no particular. Fica a reflexão.
Imagem: Pexels.com
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Advogado, sócio do escritório Lobo & Lira, vice-presidente da Comissão de Defesa do Estado Democrático de Direito da OAB-RJ e presidente da Comissão de Direito Urbanístico e Imobiliário da OAB-RJ.