O que é felicidade? Por que parece tão difícil sermos felizes?
Durante a evolução do pensamento filosófico, a felicidade foi vinculada a virtudes da alma e aos prazeres ou necessidades da carne. Em alguns momentos, de forma antagônica e, em outros, no formato complementar.
Entretanto, ser feliz é algo muito particular. Quando alcançamos um profundo autoconhecimento, fica mais fácil entendermos o que é importante para sermos mais felizes.
Muita gente acredita que um estado pacífico, sem contratempos, é o que proporcionaria felicidade. Porém, há quem diga que isso é uma ilusão e a felicidade se transforma em algo inalcançável.
Logo, ser feliz deve vir da superação das dificuldades e não da ausência delas.
Ao estudar esse tema, encontrei a obra do filósofo espanhol moderno Julián Marías, cujo título é “A Felicidade Humana”. O autor estuda a história do pensamento filosófico sobre a felicidade da Antiguidade até os nossos dias.
Segundo Marías, há uma ausência da reflexão filosófica sobre a felicidade no mundo contemporâneo. Talvez seja esse o fato que faz com que as pessoas sejam infelizes atualmente.
Ao refletir sobre o tema, acredito que o mais atrapalha a nossa felicidade, hoje, é a expectativa. Nossa mente está constantemente construindo cenários para todas as nossas experiências, em todos os campos.
Por exemplo, imaginamos como o ambiente deve ser, como as pessoas devem se comportar e, até mesmo, como nós deveríamos performar.
Desta forma, quando alguma dessas variáveis se revela diversa da nossa expectativa experimentamos o sentimento da frustração. E são esses momentos que nos trazem a sensação de que a felicidade é algo impossível.
Admitimos momentos felizes, mas felicidade é algo que não conseguimos materializar.
Por que então nós criamos tantas expectativas? De onde vem tudo isso?
Não raro, as expectativas vem das nossas experiências e nos levam a fazer conexões casuísticas com nossos sonhos e desejos. Certamente, essas projeções mentais geram preocupação e ansiedade.
Além disso, nossa mente cria expectativas não só sobre um futuro distante. Pensamos sobre o futuro que vai se revelar daqui a algumas horas, minutos ou até segundos.
Mas será que é possível nos programarmos para sermos mais felizes e menos frustrados? Uma ideia é que se vivermos mais o presente sem focar tanto no futuro diminuiríamos as frustrações.
Como controlar isso? Viver o presente é estar presente. É concentrar todos os nossos sentidos no movimento atual naquele segundo e permanecer nesse estado.
Contudo, esse “estar presente” é muito desafiador. O mundo hiperconectado nos moldou como sociedade e como indivíduos multitasks. Por isso, é muito difícil nos concentrarmos em uma única coisa.
Comecei a pensar sobre “presença” depois de alguns feedbacks relacionados à minha presença. Com isso, me dei conta de que o que incomodava as pessoas não eram os momentos que eu não estava fisicamente presente.
O que trazia desconforto eram os momentos em que eu estava presente, porém não estava lá de verdade!
Pausa para um parênteses – eu sou muito fã dessa ferramenta! Acho que o feedback é muito pouco valorizado e que se as pessoas passassem a encarar esse momento como um presente, evoluiríamos muito mais rápido. Mas isso é um assunto para outro momento.
Continuando, diante da dúvida sobre como o passado e o futuro influenciam a nossa capacidade de sermos felizes, eu comecei a me observar.
Refleti muito sobre as minhas emoções diante do que estava efetivamente acontecendo. Percebi que a maioria das vezes a frustração surge em razão do que ainda nem aconteceu.
Que curioso!
Então, não estava me frustrando somente em razão de algo que estava acontecendo diferente do que eu projetei no passado.
Na maioria das vezes eu estava me frustrando em razão do que poderia acontecer no futuro. Principalmente diante de um fato presente que estava se desenrolando de forma diferente do script imaginário que eu inventara.
Se ainda não aconteceu, por que é que eu já estava sofrendo? É claro que algumas frustrações eram ligadas às expectativas criadas no passado. Desta forma, ao não se realizarem no presente geravam algum aborrecimento imediato.
Porém, as frustrações que me traziam mais ansiedade e entristeciam a minha alma, na verdade, eram projeções que eu fazia do futuro em razão de algo que estava acontecendo no presente.
Então, comecei a perceber que não era o momento presente que me impedia de ser feliz, era sempre o passado e o futuro.
E mais do que isso! Não eram fatos acontecidos no passado ou que aconteceriam no futuro que me impediam de ser feliz. Eram projeções!
Isso foi angustiante, mas também revelador.
Se o que me impedia de ser feliz eram projeções mentais, e não fatos, era só eu aprender a programar melhor minha mente para ser mais feliz.
O filósofo Ortega y Gasset já trabalhava a ideia de que a felicidade é definida quando “a vida projetada” e a “vida real” coincidem. Ainda assim, será que é possível programarmos nossos pensamentos futuros?
E o que fazer com os pensamentos que tivemos no passado?
Descobri que, se soubermos que as frustrações estão relacionadas a projeções mentais, e não a fatos concretos, desconstruiremos essa realidade.
Essa é a boa notícia! Não temos o poder de mudar fatos, mas podemos mudar as nossas projeções.
Se algo que efetivamente ocorreu tivesse nos deixado tristes não teríamos o poder de mudar o que aconteceu. Contudo, se o que está nos deixando tristes é a não realização de uma projeção do passado temos o poder de reconhecer que a nossa mente estava errada.
Assim, nos desconectaremos dela para avaliar o presente pelo que ele é e não pelo que nós achamos que ele seria.
Muitas vezes vamos nos surpreender com o presente e perceber seu valor ao afastar a frustração.
Da mesma forma, se o que está nos deixando tristes são projeções que fazemos do futuro em razão de algo que estamos vivendo, podemos nos desconectar dessa projeção. Viver o momento presente sem medo do que ainda nem aconteceu.
Em conclusão, o verdadeiro equilíbrio acontecerá quando aceitarmos a realidade como ela é. Ter aceitação de que tanto as vitorias quanto as derrotas podem ser oportunidades de crescimento e transformação.
Assim, conseguiremos nos programar para não ficarmos excessivamente preocupados e ansiosos. Alcançaremos a felicidade e não teremos somente momentos felizes.
E você, acha que consegue ser mais feliz?
Que tal fazer esse exercício de auto observação para entender o que é que está impedindo você de ser feliz de forma mais plena?

Sou casada e tenho um filho de 7 anos. Advogada, trabalho como Diretora Corporativa de uma empresa de grande porte do mercado imobiliário, onde lidero as áreas Jurídica e Compliance. A minha rotina é dividida entre o RJ e SP, mas também viajo a trabalho para diversas cidades do país. Gosto muito do meu dia a dia e na minha caminhada aprendi com as melhores referências do mercado e posso ajudar vocês também. Sou atraída por desafios que mudem o status quo e adoro experimentar coisas novas.