A pauta é carreiras jurídicas. Se você tem 17 anos, ou alguém querido nessa idade, mergulhe neste texto. De propósito, pus o núcleo do título no plural. Falarei, em síntese, das variadas opções oferecidas pela faculdade de direito, todas à disposição da juventude no mercado de trabalho. E antecipo: a diversidade é tanta que tem lugar para todas as vocações. Leia até o fim.
O mundo em permanente transformação
Pelo Estatuto da Criança, um jovem é adolescente até 18 anos. Ou seja, ainda sob tutela especial da lei, nós brasileiros somos forçados a escolher a profissão que abraçaremos – até segunda ordem – pelo resto de nossas vidas.
Não se ignora que, segundo experts em carreiras, nos próximos 15 ou 20 anos, 50% das profissões conhecidas no momento deixarão de existir. Ao menos com seus contornos atuais. Do outro lado da moeda, 50% das profissões que então povoarão o mercado ainda virão a surgir, como fruto de demandas hoje inimagináveis, numa sociedade em que tudo é impermanente.
Igualmente, não ponho em dúvida a curiosa tese de modernos consultores em recursos humanos, segundo a qual, desde os millenials – geração que completou 18 anos no réveillon de 2000 (hoje beira os 40) –, os profissionais tendem a vivenciar intensas trocas de carreiras, intercaladas por anos sabáticos e outras experiências que, no Século XX, seriam tachadas de extravagantes, ou coisa de gente excêntrica.
Voltas que se dá, antes de crescer
No que importa, todavia, temos que, antes de sair da adolescência, a brasileira e o brasileiro que queiram e possam seguir uma carreira universitária serão obrigados a escolher uma profissão. Contudo, se o leque de alternativas hoje é maior que ontem, o desafio continua do mesmo tamanho: enormíssimo.
Lembro do dia em que meu filho mais velho – atualmente com 22 anos e muito à vontade na carreira musical – respondeu àquela pergunta chatinha que adultos teimam em fazer a suas crianças. Na época com 4 ou 5 anos, arremessei-lhe a indagação: – Filhão, diz aí o que você vai ser quando crescer. Logo após, veio a divertida resposta: – Pai, quero ser banqueiro! Mas na minha banca não venderei cigarros. Só balas, revistinhas e jornais.
A ducha de água fria
Não raro, essa visão lúdica da vida acompanha o indivíduo até a véspera do vestibular. De fato, nas primeiras séries do ensino médio, o romantismo costuma colorir o imaginário da estudantada: – Vou fazer o que amo. Mesmo que não dê dinheiro. O importante é ser feliz…
Outros, ao mesmo tempo, acrescem ao idealismo a confiança em um mundo melhor. Nesse sentido, dizem: – Vou fazer o que amo. Talvez, história. Afinal, com a Netflix e outros canais de streaming de filmes, a demanda por conteúdo de época vai crescer e isso vai abrir espaço para os profissionais da área.
Eis que, em seguida, surge aquele tio-mala com um alerta apocalíptico: – Cara, você é muito novo; não entende nada da vida. Estamos no Brasil! O país do futuro em que o amanhã é ficção. Por isso, aqui só tem desempregado. Quem consegue trabalho, recebe miséria. Só 1% do povo ganha bem. Turma, aliás, trilionária. O resto é o resto. Fazer história é coisa de professor. E por aqui professor passa fome. Só maluco investe no magistério…
Acima de tudo contrariado, triste e amedrontado, o candidato à vida adulta é induzido a cogitar das “carreiras tradicionais”: medicina, engenharia, economia, direito, arquitetura, jornalismo, odontologia, administração. Quando muito, permite-se avaliar algo que foi alternativo e corajoso uns 30 anos atrás, como por exemplo ciência da computação, desenho industrial e outras vanguardices do passado.
Entrando no tema central
Vamos lá. Não creio que o quadro seja tão dramático assim. É inegável que vivemos um processo de multiplicação de novas profissões. Portanto, com certa dose de otimismo, podemos acreditar que, votando melhor, nossa descendência fará jus a remunerações dignas. Quem sabe até com uma pitada de bitcoins. E o Brasil, então, entregará às gerações uma economia tão eficiente quanto a beleza de nossas praias.
Num ou n’outro caso, contudo, as profissões tradicionais sobreviverão. E aqui entram meus comentários sobre as carreiras jurídicas. Falarei da advocacia, que é a mais bela de todas. Um trabalho realmente sofisticado. O advogado conjuga observação de fatos com especulação intelectual. E, assim, extrai das circunstâncias do caso e do emaranhado de leis a tese a ser lapidada no interesse do cliente.
Eis a síntese da pérola das carreiras jurídicas
Mencionei, anteriormente, que a diversidade das carreiras jurídicas é tamanha que abriga todas as vocações. Vejamos como é verdadeira essa afirmação, com breves pinceladas sobre a essência da advocacia.
Pois bem. Se estiver no campo do direito penal, caberá, então, ao advogado dominar o estado da arte em termos de estágio civilizatório e defesa do estado democrático de direito. Se optar pelo direito do trabalho, será, acima de tudo, perito em conflitos sociais e em demandas do trabalhador, sem descurar da viabilidade da empresa, fonte da geração de empregos. Preferindo o direito de família, escutará a alma humana, desvendando pessoas de diferentes gêneros e credos, para, como resultado, pacificar conflitos e angústias de toda ordem. Se trilhar o direito empresarial, lidará, em síntese, com empreendimentos de vulto, redigirá contratos de alta complexidade, estruturará aquisições societárias e imobiliárias, tudo nos variados setores da atividade econômica.
No cardápio, terá o advogado, assim também, a possibilidade de trabalhar com direito tributário, constitucional, administrativo, penal-econômico, ambiental, consumerista, digital, para citar alguns dos ramos que segmentam a intrincada aventura humana na Terra.
Sob outro prisma, o advogado pode ser um profissional liberal, solitário ou em parceria com alguns colegas, ou possuir ou integrar um poderoso escritório de advocacia, com centenas de pessoas. Além disso, o profissional é livre para atuar em litígios, em consultoria, ou nas duas áreas. Da mesma forma, tem como opção pertencer a departamento jurídico de empresa privada, ou desenvolver carreira em estatal. Pode, igualmente, engajar-se em uma das muitas carreiras da advocacia pública, como a de procurador do município, advogado da União, defensor público, entre tantas.
Por fim, o advogado pode desistir da advocacia e ingressar em qualquer das carreiras de estado franqueadas pelo curso de direito, tornando-se magistrado, membro do ministério público, delegado de polícia, auditor fiscal, entre outras muitas possibilidades.
Dica à juventude
Enfim, diria ao futuro universitário que, se gosta de ler, escrever e pensar, em caso de dúvida, faça direito. Acima de tudo, esse meu conselho é de quem chegou às carreiras jurídicas pela incerteza sobre o que fazer, aos 17 anos, e que hoje, com 59, é um amante incondicional da profissão que me abraçou e que sempre me deu tantas alegrias. Em suma, diria: viva a advocacia!
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Imagem: huntersrace.com

Advogado, sócio do escritório Lobo & Lira, vice-presidente da Comissão de Defesa do Estado Democrático de Direito da OAB-RJ e presidente da Comissão de Direito Urbanístico e Imobiliário da OAB-RJ.