Encontramos Ilana na sede da Dermage, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Como veremos, sua história de vida é diretamente ligada à da marca. Há três anos, Ilana passou a ocupar o cargo de CEO da empresa. Hoje com 40 anos, a executiva é casada e mãe de três filhas. Seu perfil gentil e dinâmico logo se destacou nos cinco primeiros minutos de conversa. Sem titubear, nos ajudou a arrastar os móveis, a pegar uma poltrona da sala de recepção, colocando literalmente a mão na massa para dar a nosso encontro um ambiente confortável e acolhedor.

Mas sabíamos, a todo instante, que estávamos diante da líder de uma poderosa empresa, referência perante um consumidor qualificado e exigente.
Enquanto organizávamos a sala e tirávamos algumas fotos iniciais, fomos conhecendo essa mulher incrível que certamente você também vai admirar.
Se ajeite na poltrona, pegue uma xícara de café e vamos à leitura desta entrevista superinteressante.
RC: Ilana, como foi a sua definição profissional?
IB: Nasci e cresci no Rio. Na época do vestibular, não sabia exatamente o que queria. Por isso, fiz uns testes vocacionais, mas não me ajudaram muito. Os resultados mostravam que eu me encaixaria em diversas áreas e não em uma específica (risos). Então, experimentei vários cursos para tentar descobrir o meu caminho. Por exemplo, iniciei engenharia na UFRJ e, em uma semana, vi que aquilo não era para mim. Acabei escolhendo economia na PUC. Como ganhei uma bolsa em direito na Cândido Mendes, aproveitei e cursei as duas faculdades ao mesmo tempo.
RC: Como foi o início da sua carreira?
IB: Depois de formada, trabalhei muitos anos em bancos de investimento. No BBA, no Modal, no Investidor Profissional. Acima de tudo, foi bom ter conciliado economia e direito. Por exemplo, o direito te dá uma visão muito ampla de tudo e em todos os momentos precisamos dele. Desde quando trabalhava em banco, na montagem de produtos, na área comercial e com M&A (fusões e aquisições de empresas), o direito vem me ajudando muito, até hoje.
RC.: E como aconteceu a sua vinda para a Dermage?
IB: Um belo dia fui ao dermatologista e soube que precisaria fazer um procedimento. Decidi, então, sair em férias por alguns dias e aproveitei para ver o que minha mãe estava fazendo na empresa. Quando cheguei, me encantei. Participei de reuniões e percebi coisas muito legais. Nossos produtos eram diferenciados. Tínhamos realmente consolidada a parte de desenvolvimento de produto. Mas senti que a empresa estava mais voltada para vendas e inovação tecnológica do que efetivamente para o crescimento do negócio. Enfim, foi nesse momento que reconsiderei minha decisão de trabalhar no mercado financeiro. Na volta das férias pedi demissão no banco e estou aqui desde então.
RC: Como foi a sua adaptação na empresa?
IB: Entrei como assistente da minha mãe e fiquei um período dedicada à analise do funcionamento da empresa. Em princípio, a minha adaptação foi difícil. O ambiente era muito diferente para mim. No mercado financeiro, você trabalha com pessoas de perfis e objetivos muito próximos, e um pouco mais agressivo. Por outro lado, em uma organização como a Dermage, trabalhamos com profissionais de formação, conhecimentos técnicos e objetivos diferentes. E isso era um desafio.
RC: Verdade. São ambientes totalmente distintos. E como foi, para você, lidar com essa nova cultura?
IB: Uma curiosidade que me lembro foi que, logo na primeira semana, perguntei para minha mãe por que todo mundo parecia tão desmotivado? Ela reagiu: “por que você está me perguntando isso?”. Respondi: “porque todo mundo sai às 19h” (risos). Ela então me explicou que os funcionários não estavam desmotivados; que as pessoas saíam naquela hora porque tinham qualidade de vida. Fiquei surpresa porque, de onde eu vinha, as pessoas trabalhavam até tarde da noite. E concluí que precisava estudar mais essa outra cultura, inteiramente nova para mim.
RC: Como foi começar sendo a “filha da dona”?
IB: Ao contrário do que pode parecer, ser a “filha da dona” gerou em mim mais cobrança que o normal. Além disso, sentia a obrigação de dar o exemplo, era a primeira a chegar e a última a sair. Também achei que precisava fazer algum curso, pois me sentia em um mercado que ainda não dominava. Daí, fiz um MBA na PUC de Gestão e Administração, para aprender sobre desenvolvimento de pessoas, marketing… Foi bem legal essa época.
RC: Como se deu a transformação da empresa com a sua chegada?
IB: Uns amigos sugeriram que eu tentasse submeter a empresa ao processo seletivo da Endeavor (organização internacional de apoio ao empreendedorismo). Achei a ideia super legal, por representar uma maneira de trazer cultura nova para a companhia; governança, visão de business, de processos. Posteriormente, nos candidatamos e fomos admitidos. Um movimento muito positivo. Por exemplo, passamos a ser auditadas por uma das Big Four (as quatro maiores empresas de auditoria contábil do mundo). Além disso, trouxemos novos executivos para a companhia, com um outro mindset, preservando os grande valores da empresa, de inovação, criatividade e de excelente relacionamento com os médicos dermatologistas.
RC: Você teve liberdade total para agir?
IB: Não. Conquistei aos poucos. Certamente, aprendi como e em que momento abordar os assuntos e as mudanças. Então, só depois de uma longa caminhada, me tornei CEO e meus pais concentraram sua atuação no Conselho, participando de reuniões sobre assuntos estratégicos.
RC: Suas decisões deram muito certo. A que você atribui esse sucesso?
IB: A busca do apoio da Endeavor foi umas das melhores medidas que implantei. A partir daí, trouxemos para a business uma nova rede de apoiadores que muito contribuiu para a renovação da empresa. Passei a contar com diferentes mentores. Enfim, descobri que quando se quer fazer uma grande transformação é preciso agir em conjunto. Atribuo especial relevância ao curso de empreendedorismo que fiz em Sanford. No entanto, sempre soube que, para desincumbir-me de minha missão, tinha que estar sempre muito atualizada, a par das novas práticas, dos novos desafios, das novas oportunidades.

RC: Você teria algum exemplo de mudança no perfil da empresa, a partir do seu ingresso?
IB: Em certo momento, assumimos a dianteira no nosso mercado e passamos a vender produtos nas grandes drogarias do país. Só dois anos depois, a concorrência seguiu esse caminho. Certamente, foi excelente para a Dermage essa antecipação, que se mostrou uma tendência de mercado: a maior aproximação com o consumidor, independentemente do local das lojas da marca. Esse movimento cresceu ainda mais, quando passamos a receber demandas de grandes empresas, como Renner, Lojas Americanas etc., para vender produtos acessíveis e fáceis de usar, sem uma ligação necessária com tratamento dermatológico. Foi quando lançamos a Beauty 4 Fun, uma marca que vai muito bem no portfólio da empresa.
RC: Quais são as próximas movimentações na Dermage?
IB: Pretendemos ter, ainda neste ano, um head digital. Queremos implantar, dentro do marketing, o marketing digital. Pois não tínhamos um head nessa área. Em outras palavras, alguém efetivamente dedicado a pensar o marketing digital e as oportunidades que esse ambiente oferece.
RC: Você está presente em todas as pontas do negócio?
IB: Sim. Faço uma reunião mensal com cada diretor e uma reunião semanal com todos juntos, as segundas-feiras, às 9h da manhã. Começamos a semana com as decisões já tomadas. Além disso, estou implantando na empresa uma cultura informal, mais participativa, mais “escutativa”. Um pouco da cultura feminina, né (risos).
RC: Com todas essas mudanças, ainda tem pessoas do inicio da empresa trabalhando com você?
IB: Sim, mas poucas. Numa festa de final de ano, premiamos os colaboradores que tinham 10 ou 20 anos de casa. Foi muito emocionante.
RC: Atualmente enfrentamos um desafio muito importante, que é a sustentabilidade. Como você vê essa questão?
IB: Estamos discutindo muito isso. Como grande parte do nosso lixo é químico, mantemos um excelente programa de coleta seletiva e reciclagem. Há tempos, já não utilizamos sacolas plásticas nas lojas. No momento, estamos tentando instituir em nossa cadeia produtiva o refil de produtos, mas há muita dificuldade no Brasil, muita burocracia. Só para dar uma ideia, lançamos uma linha chamada Delifresh Orgânico. Para conseguir parte dos insumos, em Belém, levamos mais de três meses. Além de entraves logísticos, precisamos de milhões de certificados, entre outras exigências regulatórias. Se melhorasse a burocracia, tudo ficaria mais fácil, pois temos muitos projetos bem legais.
RC: O que você espera para a sua carreira futuramente?
IB: O que eu espero…? (Reflexiva…) Engraçado, né… Hoje, com 40 anos, ainda me sinto jovem. E amo empreender. Diria que é “uma cachaça”. Além disso, sempre temos coisas novas a fazer e a enfrentar. Portanto, acredito que ainda tenho muito potencial para desenvolver aqui e já quero pensar em formar alguém para a minha sucessão. Tenho alguns projetos que gostaria de desenvolver, em muitas áreas. Entretanto, a Dermage está começando a exportar e tem muita coisa para acontecer por aqui ainda.

RC: Falando em sucessão empresarial, o que você pensa para o futuro das suas filhas?
IB: De verdade, não sei como serão as coisas; se elas vão ser empreendedoras, ou não. Então, tento ensinar-lhes a importância do equilíbrio emocional, salientando a ideia de que elas são livres para escolher o que querem fazer. Um dia eu estava comentando isso com algumas pessoas, eu fiz francês quando estava na escola e hoje é uma língua muito pouco usada. Agora o espanhol é uma língua bem mais usada, então, por exemplo, hoje existem aulas de programação, robótica que não existiam antigamente. Em suma, a gente precisa tentar recriar a autonomia e essa busca de ser o que quiser e ser feliz com isso.
RC: E qual é o seu segredo ser mãe, esposa e executiva ao mesmo tempo?
IB: É uma loucura (risos). Mas o segredo é ser menos exigente comigo mesma. Pudera eu ter tido esse pensamento, essa maturidade, alguns anos atrás. O segredo – hoje eu sei – é viver bem com a ideia de que não se pode ser mãe ou esposa perfeita, a executiva perfeita, a amiga perfeita… O importante é fazer o melhor possível, em cada uma dessas áreas da vida.
RC: Quais são os ensinamentos que você teve no ambiente familiar sobre trabalho e dinheiro?
IB: A Dermage tem 20 e poucos anos. Quando era pequena, via minha mãe empreendendo. Presenciava seu desejo de construir coisas do zero e as dificuldades por ela enfrentadas para alcançar os bons resultados. Meu pai, por outro lado, sempre me mostrou o valor do planejamento. Ainda criança, amava acompanhar a produção farmacêutica. Diria que sou fruto do caráter criativo e inovador da minha mãe e do lado planejador do meu pai, sendo que os dois sempre me estimularam a valorizar e a aprender a cultura empreendedora. Ademais, acredito que isso tem alguma relação com o judaísmo, que possui princípios e valores muito legais, com enorme valorização do conhecimento e da sabedoria. Sempre me lembro do meu avô – que saiu da Polônia para o Brasil – dizendo palavras que me marcaram demais: “a única coisa que ninguém nunca vai poder tirar de você é o conhecimento”.
RC: Conte nos um pouco da sua história de sua mãe.
IB: Minha mãe é farmacêutica bioquímica e tem 65 anos. Seus dois irmãos também são empreendedores. No início da vida profissional, ela prestou concurso público e trabalhou em um hospital, mas não gostava. Naquele trabalho, porém, ela conheceu uma pessoa que lhe falou sobre farmácia de manipulação que, naquela época, não existia no Brasil. Então, para conhecer esse tipo de negócio, ela viajou para a Argentina para visitar uma empresa do ramo que estava dando certo. Ao voltar, pediu demissão do hospital, vendeu o seu fusca verde e abriu uma farmácia focada no trabalho de manipulação, com uma sócia. Nos anos 90, se separou da sócia e fundou a Dermage.

RC: E o seu pai? Qual foi a sua contribuição para a Dermage?
IB: Ele sempre deu muito apoio à minha mãe. Não só financeiramente, como também estimulando sua dedicação ao trabalho e estruturando a empresa, sob o ponto de vista de sua organização e seu planejamento.
RC: Que mensagem você daria aos nossos leitores sobre carreira?
IB: Devemos todos estar permanentemente prontos a nos transformar. Isso é muito valorizado no plano profissional. Harmonizar equilíbrio emocional com capacidade de mudar. Assim como você, que era advogada e se transformou em consultora de carreira e editora da Revista. Conseguir se adaptar a diferentes ambientes também é essencial. Afinal, não sabemos exatamente como vai ser o dia de amanhã. Fiz um curso recentemente que mostrou como a automação está influindo nos processos das empresas. Evidentemente, as pessoas precisarão estar capacitadas a lidar com essas transformações.
RC: Ilana: Foi uma grande honra para a Revista da Carreira conversar com você sobre a Dermage, uma empresa que está fazendo história em nosso país.
IB: Fico muito emocionada ao contar a história da Dermage. Hoje, posso dizer que a história da Dermage se confunde com a minha própria história. E, acima de tudo, sinto muito orgulho e gratidão por isso.
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Fotos: Fernanda Faillace. @fefaillace
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Sou cofundadora da revista. Amo networking, marketing digital e SEO. Acompanho as mudanças e inovações no mercado de trabalho para trazer tudo fresquinho para vocês sobre esse fascinante tema que é a carreira.