O Alex Bretas é um mineiro que vive em São Paulo especialista em Educação com foco em aprendizagem autodirigida. E como bom mineiro, tem fala mansa e pensamento rápido.
Primeiramente, vale dizer que eu o conheci bem antes de sermos apresentados formalmente. Pois quando me falaram sobre o perfil dele eu já comecei a segui-lo e a admirá-lo de longe.
É uma dessas pessoas que você tem vontade de ficar conversando o dia todo. Isso porque, além de ter muito conteúdo, tem aquele jeito mineiro de contar histórias. Que, como eles mesmo dizem … Nu!
E foi por isso, que resolvi convidá-lo para uma entrevista nas Lives que fizemos na Revista da Carreira. E a conversa foi tão boa que acabou virando entrevista para vocês por aqui também.
RC – Você tem um formação formal em administração pública. Como você acabou se envolvendo com a área de educação e aprendizagem autodirigida?
Eu costumo dizer que o bichinho da educação me mordeu pouco depois de eu me formar. Na verdade, meus questionamentos em relação à educação apareciam desde cedo. Contudo, eu não conseguia conceber uma outra forma de se pensar educação na minha época de escola.
Nesse ínterim, em 2013, quando me mudei de Belo Horizonte para São Paulo, conheci algumas pessoas que estavam inaugurando novas formas de enxergar a educação. Dentre elas o André Gravatá, que naquele período estava lançando o livro “Volta ao Mundo em 13 Escolas” junto do Coletivo Educ-ação. O André fazia na época o que ele chamava de “doutorado informal”, uma pesquisa profunda e independente das instituições acadêmicas. Assim, quando ele me disse que estava fazendo isso, eu subitamente me apaixonei e resolvi ser um cobaia desse “método”.
O que eu vi no doutorado informal foi a oportunidade de aprender com consistência dentro do que me interessava. Assim como, conservar a liberdade para criar meu próprio campo de estudo, minha metodologia e o formato de compartilhamento do que seria produzido. O doutorado informal, de algum modo, foi minha formação em educação.
RC – Conta para gente como foi esse seu projeto de fazer o doutorado informal?
Foi uma das experiências mais profundas e significativas da minha vida. Na verdade, foi um grande conjunto de experiências.
Antes de mais nada, o primeiro movimento foi entender como eu poderia viabilizar o projeto.
Dessa forma, acabei recorrendo ao financiamento coletivo através de uma campanha no Catarse. A campanha foi um sucesso e, a partir daí, eu comecei a blindar meu tempo para conduzir minhas pesquisas. Fiz muitas entrevistas, conversei com muita gente, participei de experiências como o Caminho do Sertão – uma jornada de 160 km a pé pelo sertão mineiro durante 7 dias -, conheci projetos educacionais inspiradores e coloquei tudo isso no papel.
Posteriormente, em dois anos, eu estava publicando o segundo livro nascido a partir desse processo. E tudo que produzi está disponível para download gratuito no meu site (clique aqui para acessar).
RC – Quais são as vantagens da aprendizagem autodirigida com relação ao modelo tradicional de educação?
O fato de ser possível criar seu próprio jeito de aprender é fascinante. Ao longo da minha pesquisa, eu pude cruzar diferentes caminhos metodológicos e com isso acabei criando uma abordagem que fez muito sentido pra mim.
Do mesmo modo, outro ponto interessante é que a jornada acaba sendo muito mais colaborativa. Desde o início, eu tinha 160 pessoas ao meu lado durante a investigação, que foram as pessoas que apoiaram meu projeto de financiamento coletivo.
E, por ir escrevendo os livros “em tempo real” no meu blog, outras pessoas foram se aproximando a fim de compartilhar feedbacks, percepções e apoios fundamentais. Se, por um lado, na universidade você tem uma turma e um orientador, no doutorado informal você pode criar uma rede de pessoas e mentores para te acompanhar no decorrer do seu percurso.
RC – E quais são os principais desafios da Autoapredizagem?
Se você não tiver paciência e coragem para criar essa rede que te acompanha, é possível que você se sinta solitário no processo. É justamente por isso que hoje em dia eu tenho trabalhado com a criação de comunidades de aprendizagem autodirigida. Ou seja, espaços em que as pessoas se reúnem para aprender a partir dos próprios interesses, mas com a companhia e o apoio durante o percurso.
Outro desafio muito comum é como sustentar o foco. A autodisciplina e a consistência necessárias para de fato “concluir” o percurso (entre aspas porque a aprendizagem na verdade nunca acaba). Uma comunidade também pode ajudar nisso porque ela fornece ao menos uma das estruturas de comprometimento essenciais: a “fiscalização” de outras pessoas. Isso não significa que você fará o que outra pessoa mandar. Mas sim que você pode contar com o grupo para te ajudar a persistir nas rotinas e objetivos que você mesmo traçou para si.
Um terceiro desafio importante é como ser reconhecido a partir de um percurso educacional de aprendizagem autodirigida e informal que, por definição, não emite certificado.
Contudo, existem várias estratégias para contornar isso. Porém o que costumo recomendar mais é a construção de um portfólio público de projetos, resultados e conquistas de aprendizado.
Em conclusão, no meu doutorado informal, foi exatamente isso que fiz com os posts no blog e, depois, com a publicação dos livros. Qualquer pessoa que quiser atestar a minha capacidade de abordar ou trabalhar com o tema que escolhi pode simplesmente baixar meus livros e ver por si mesmo. O certificado, que funciona como uma intermediação, deixa de ser algo essencial.
RC – Eu li o livro que você traduziu “A Arte da Aprendizagem Autodirigida” e fiquei muito impactada com o capítulo sobre consentimento. É incrível como não se discute isso nos modelos tradicionais de educação, não é?
A questão do consentimento é fundamental e realmente fechamos os olhos pra isso nos ambientes educacionais. Hoje, se eu me relaciono com alguém, é crucial que eu peça consentimento antes de fazer algo e discuta essas questões com minha parceira.
Por que então não fazemos o mesmo antes de compartilhar algum conhecimento com alguém?
A compulsoriedade tem sido uma marca dos nossos sistemas educacionais desde muito tempo, talvez por tempo demais. É muito importante questionarmos isso, inclusive com as crianças, que antes de tudo também são pessoas e devem ser tratadas como tal. Só se aprende a ter agência quando existem oportunidades para se fazer escolhas de maneira livre e consciente. E é exatamente esse aprendizado que estamos negando a nossas crianças o tempo todo na maioria das escolas.
RC- Você acredita que essa metodologia de autoaprendizagem funciona para crianças e adolescentes também?
Não há dúvidas disso e os exemplos de sucesso ao redor do mundo são numerosos.
Por exemplo, temos movimentos como o unschooling (desescolarização), a educação democrática, a rede de Agile Learning Centers, os Liberated Learning Centers, a rede de Ecoversidades e a Aliança para Educação Autodirigida.
Eles reúnem diversas iniciativas educacionais baseadas em autodireção e consentimento, tanto com adultos quanto com crianças e adolescentes.
Ao mesmo tempo, quando eles crescem, a literatura científica aponta que eles são sim capazes de ter uma vida totalmente funcional – vários inclusive se tornam muito bem-sucedidos em suas carreiras.
Antes de tudo, porém, essas pessoas aprendem a refletir sobre suas próprias definições de sucesso. Ao invés de aceitar passivamente as definições que a cultura dominante lhes aponta, o que faz toda a diferença.
RC – Como você acha que as pessoas que querem aprender melhor alguma coisa podem se apropriar das técnicas que você desenvolveu nesse momento de isolamento social?
O momento de isolamento requer que as pessoas aprendam a navegar na infinidade de cursos e conteúdos que se apresenta no meio digital. Quando as possibilidades são tão vastas, é comum ficarmos paralisados sem saber o que escolher ou então iniciamos vários caminhos de aprendizado diferentes.
Dessa forma, precisamos assumir para nós mesmos que não vamos dar conta de tudo. E, a partir disso, criar um hábito de dedicar um pouco de tempo todos os dias para aprender dentro de um ou dois focos específicos. Em contrapartida, quanto mais esses focos forem escolhidos com base naquilo que te toca, que te fascina, que realmente desperta sua curiosidade de maneira profunda, melhor.
RC – Alguma dica para quem quer se aventurar no mundo do aprendizado autodirigido?
Antes de mais nada, uma das principais dicas que costumo dar nos programas e palestras que conduzo sobre autoaprendizagem é o CEP+R (Conteúdos, Experiências, Pessoas e Redes). CEP+R é um método que criei junto com o Conrado Schlochauer para trazer consciência a respeito dos caminhos pelos quais alguém pode aprender algo.
Assim, criamos o CEP+R para dizer às pessoas que aprender é muito mais do que somente consumir conteúdo. Para acelerar o aprendizado, você precisa diversificar suas fontes e, ao fazer isso, você começa a perceber que aprender é possível o tempo todo e em qualquer lugar.
- Conteúdos: leituras, vídeos, podcasts etc.
- Experiências: testar seu aprendizado na prática, viver, sentir, refletir sobre a prática.
- Pessoas: especialistas, parceiros, ouvintes, mentores.
- Redes: grupos, movimentos e comunidades dedicados aos seus temas de interesse.
Enfim, quanto mais você diversificar seus caminhos educacionais a partir do CEP+R, mais consistente será seu aprendizado.
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Alex Bretas é escritor, palestrante e facilitador de comunidades de aprendizagem autodirigida. Conheça mais sobre ele em www.alexbretas.com.

Sou casada e tenho um filho de 7 anos. Advogada, trabalho como Diretora Corporativa de uma empresa de grande porte do mercado imobiliário, onde lidero as áreas Jurídica e Compliance. A minha rotina é dividida entre o RJ e SP, mas também viajo a trabalho para diversas cidades do país. Gosto muito do meu dia a dia e na minha caminhada aprendi com as melhores referências do mercado e posso ajudar vocês também. Sou atraída por desafios que mudem o status quo e adoro experimentar coisas novas.